top of page
02_-_Rua_São_Bento.jpg
Fundo.jpg
Não só copie fotos, marque a nossa página do facebook e nos ajude a crescer!!!

Alexandre Vannucchi Leme

Atualizado: 8 de jul. de 2024

Hoje vamos falar um pouco sobre um jovem estudante sorocabano, vítima do governo militar da década de 70...


Alexandre, nasceu em 5 de outubro de 1950, foi o primogênito de seis filhos do casal de professores José Oliveira Leme e Egle Maria Vannucchi Leme.


Morou em Itu, devido ao pai que trabalhava no SENAI dessa cidade, mas com a nomeação dele para a nova instalação do SENAI, se mudaram para Sorocaba primeiramente na Rua Goiás e depois para a Rua Amazonas.


Finalizou seus estudos primários no Grupo Escolar “Antônio Padilha” e na Escola Municipal “ Dr. Júlio Prestes de Albuquerque”, cursou o ginásio, o colegial científico e o curso de formação de professores primários.


Leitor assíduo, adquiriu uma consciência politica desde cedo e como queria participar da melhoria do país, decidiu continuar seus estudos em São Paulo, na USP no curso de geologia.


No inicio dos estudos, Alexandre ficou chocado, com o papel que universidade matinha sendo alheia e conformista sobre a realidade do país. Assim teve uma maior concepção do momento que o país estava passandoe decidiu ajudar a criar o Centro Acadêmico da Geologia, fazendo parte da diretoria em 1971. Defendeu e participou na recriação do Diretório Central de Estudantes (DCE) e de outros movimentos estudantis, onde começou a irritar as autoridades brasileiras que preferiam manter a situação da forma que estava.


Entre ficar no grupo de satisfeitos com o regime (“Pra frente, Brasil”) ou sendo sugerido para os contrários, a mudança de país (“Brasil: Amei-o ou Deixe-o”), Alexandre optou pela terceira opção e como outros estudantes, entrou para a Ação Libertadora Nacional (ALN), atuando não na luta armada, mas sim na base do apoio, para fazer oposição ao regime ditatorial.


Fazia críticas abertas ao governo como o questionamento da construção da Rodovia Transamazônica, criada durante o governo de Garrastazu Médici, por causa da falta de planejamento e sem a preocupação do impacto na fauna e flora na região, sendo que atualmente continua inacabada.


Com suas atitudes, Alexandre virou exemplo para os outros jovens da mesma idade, mas também chamou a atenção dos espiões que estavam infiltrados nas universidades e diversos outros locais que pudessem haver uma resistência ao governo.


No dia 15 de março de 1973, ano de sua formatura na USP, participou habitualmente as aulas, mas infelizmente foi à última vez que o viram. No dia seguinte foi preso por agentes da DOI-CODI, com a justificativa de ser integrante do grupo subversivo ALN e com participação de assaltos, assassinato e aliciamento de novos integrantes.


A família só ficou sabendo de sua prisão depois que um telefonema anônimo no dia 20 de março, atendido por seu irmão José Augusto avisando para ir buscar Alexandre que estava preso no Dops.


A partir daí começa a saga de seu pai em busca de informações em diversos órgãos do governo sobre o filho, mas sem sucesso. Somente no dia 23, em outra partida para São Paulo, leu uma noticia no Jornal Folha de São Paulo, sobre o falecimento de seu filho, acusado de terrorista, num atropelamento enquanto fugia da polícia no dia 17 de março.


Indo direto para o Dops, recebeu a mesma informação que leu no jornal, foi informando pelo delegado que não tiveram responsabilidade na morte de Alexandre. À noite conseguiu entrar em contato com o diretor delegado do Dops que lhe contou uma história totalmente diferente: ele foi preso e tinha se suicidado com uma lâmina de barbear na cela.


A versão oficial escolhida pelas autoridades foi o atropelamento, com um trabalho de minimizar as repercussões geradas para abafar a reação da família, centros acadêmicos, do Bispado de Sorocaba e da Arquidiocese de São Paulo.


Com mais uma contradição no caso, Alexandre foi levado para o Instituto Médico Legal, e passando 24 horas, como o corpo não foi reclamado, acabou sendo enterrado como indigente desconhecido no Cemitério de Perus, na zona norte de São Paulo.


Como sua morte foi divulgada 6 dias depois de ocorrida, claro que não houve o conhecimento da família, além do desconhecimento da identidade do falecido, que se torna incorreta quando se olha o livro de óbito do cemitério e encontra todas as informações importantes como nome completo, nomes dos pais, idade, cidade natal e causa da morte.


Outra curiosidade é que um dos médicos que declarou a morte em causa dos ferimentos do atropelamento foi o mesmo que assinou como médico legista e era sempre requisitado nessa época.


Com muitas inconsistências no caso, a família decidiu entrar com um requerimento pedindo a exumação do corpo, sua necropsia, translado para Sorocaba e o esclarecimento oficial sobre a responsabilidade do desaparecimento da maneira que ocorreu. Infelizmente o processo foi enviado para o comandante do II Exército de São Paulo que mandou arquivá-lo.


Somente em 1978, o caso foi novamente levado em relevância, dessa vez para o Superior Tribunal Militar, com adicional de seis testemunhas que estavam presos na mesma época que Alexandre e confirmaram a tortura seguindo da morte dele na cela, mas novamente não houve o prosseguimento no caso.


Em 7 de outubro de 1978, Alexandre foi homenageado com o nome de uma praça em Sorocaba no final da Rua Amazonas, entre a Avenida Afonso Vergueiro e Rua Paraná. Antigamente nesse local havia um campo de futebol onde Alexandre jogava bola, ficando a 300 metros de sua casa. Inicialmente foi colocado um bloco de mármore com uma placa comemorativa de bronze, mas futuramente seria acrescentado um busto, o que acabou não se concretizando.


Inauguração da Praça Alexandre Vannucchi Leme em 1978.

Fonte: Porque Lutamos! - Documentário. Direção: Fernanda Ikedo. 2008.


Dona Egle, mãe do Alexandre. Inauguração da Praça Alexandre Vannucchi Leme em 1978.


Inscrições nas placas de bronze no monumento de mármore na praça

Fonte: Porque Lutamos! - Documentário. Direção: Fernanda Ikedo. 2008.


Mesmo com a ajuda dos advogados, logo após ao conhecimento do óbito, somente em 1983 a família conseguiu reaver os restos mortais do estudante, depois da procura do local onde foi enterrado, resistência dos órgãos de segurança de confirmar um caso de tortura, somente com o analise da arcada dentária, finalmente foi confirmado sua identidade.


Alexandre Vannucchi Leme foi sepultado, sem caixão, no dia 18 de março de 1973, na sepultura 172, quadra 8, gleba 2 do Cemitério Dom Bosco, conhecido como Cemitério de Perus. Seu corpo foi coberto de cal virgem para as marcas de tortura desaparecem rápida com a decomposição. Depois de uma missa na Catedral da Sé, seus restos mortais agora descansam na sepultura da família no Cemitério da Saudade em Sorocaba.


Sobre o caso, somente em 12 de dezembro de 2013, a 2ª Vara de Registros Públicos do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou, em sentença proferida pela juíza Renata Mota Maciel Madeira, a retificação da causa de morte de Alexandre Vannucchi Leme. O pedido tinha sido feito pela CNV em 8 de outubro de 2013, assinado pelo então coordenador José Carlos Dias, após requerimento feito pelos irmãos do estudante assassinado. De acordo com a decisão da magistrada, na certidão de óbito de Alexandre devia constar que sua morte decorreu de lesões provocadas por tortura.


Outras homenagens:


  • EMEF Alexandre Vannucchi Leme - Escola em São Paulo;

  • EEPG Alexandre Vannucchi Leme - Escola em Ibiúna;

  • Rua Alexandre Vannucchi Leme – Bangu - Rio de Janeiro;

  • Diretório Central dos Estudantes Livre “Alexandre Vannucchi Leme” – USP;


Fontes:


Livro: Alexandre Vannucchi Leme de Aldo Vannucchi;

Jornal Cruzeiro do Sul: 08/10/1978;

Revista Adusp – Maio/2005;


Sites:


Vídeos:


Comments


SOBRE O SITE

Mesmo sendo movido apenas pela curiosidade sobre a história de Sorocaba, minha intenção é mostrar através de pesquisa em jornais, revistas, livros e com o auxílio dos historiadores, algumas informarções, lendas e lugares que tem um relevância historica e que por algum motivo se perdeu no tempo. 

REDES SOCIAIS

ASSINE

Cadastre seu email e seja informado de todas as nossa atividade:

Obrigado pelo envio!

bottom of page