Hoje vamos descer pela Estrada da Água Vermelha, para chegar à Estrada do Quiló e falar um pouco sobre ele e sua famosa chácara que deu origem a um dos bairros mais conhecidos de Sorocaba: Parque Campolim.
Achilles Campolim, ou mais conhecido por Quiló, nasceu em 15 de agosto de 1888 e além dele havia mais duas irmãs: Adelaide e Emidia.
Durante a juventude estudou música e optou pelo trompete, embora também tocasse outros instrumentos. Formou-se junto com o maestro Adolfo Lippel na Corporação Musical Lyra Sorocabana. Destacou-se durante as apresentações e recebeu convites para tocar na capital, mas preferiu ficar em Sorocaba.
Entre 1905 a 1911, trabalhou na fábrica de arreios Ferreira & Cia no Além-Ponte, onde ajudou a introduzir uma linha nova de produtos como a estribo de madeira, diferentes das fabricadas pela concorrência.
Achilles Campolim
Em 1912, comprou um moinho de fubá e café e iniciou uma criação de vacas leiteiras no bairro da Água Vermelha.
Nessa época conheceu Leopoldina Moura Leite, filha de uma tradicional família sorocabana e dessa união nasceram: José Fausto, Mário, Silvio, Ondina, Maria, Iracema, Olga, Estela e João.
Depois de muito trabalho arrendou essas terras e conseguiu reservar dinheiro que aproveitou para comprar uma gleba de terras mais adiante ainda Bairro da Água Vermelha em sentido Votorantim, dos herdeiros do Capitão Elias Monteiro que havia morrido no inicio desse mesmo ano, em 1917.
Leopoldina Campolim
Em 1920, com a lavoura e pecuária mais desenvolvidas Achilles muda-se com a família para lá, na propriedade que já se chamava Chácara do Quiló. O apelido Quiló, veio da fidelidade dele para todos que o cercavam, cuja origem segundo o historiador Arlindo Previtalli seria apenas uma alteração ou simplificação do seu nome.
Recebia sempre caravanas das escolas da cidade, para os alunos terem um conhecimento das atividades agropecuárias.
Sua chácara foi a maior produtora de leite da época e com as necessidades que vinham dessa atividade, participou da fundação da Cooperativa de Laticínios de Sorocaba, a Colaso.
As suas terras ficavam também num ponto de passagem, que Achilles gentilmente abria para a travessia de viajantes e de cargas, por isso ficou conhecida como a Estrada do Quiló.
Participou de diversos movimentos filantrópicos da época, integrando diretorias como do Instituto de Higiene Mental, das corporações musicais Santa Cecília e São Vicente de Paulo, além de ser membro da Loja Maçônica Perseverança III.
Durante as revoluções de 1924 e 1932, mesmo nunca tendo militado na politica, sempre foi hospitaleiro e abrigou em sua chácara, vários políticos independentes do partido.
Achilles Campolim faleceu em 18 de janeiro de 1949, no dia seguinte um grande cortejo acompanhou o caixão de sua chácara na Água Vermelha até o Cemitério da Saudade.
Com a morte de Quiló, seu filho João assume os negócios e administra as terras da família até meados da década de 70.
Nos anos 70, depois de vários contatos, a família Campolim e a Construtora Júlio e Júlio firmam uma parceria para explorar a propriedade, através do loteamento das terras visando moradores da classe A.
Maquete do loteamento.Note que ainda não existe o viaduto por cima da Rodovia Raposo Tavares.Loteamento Parque Campolim. Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
O loteamento foi feito em fases, iniciando as vendas em maio de 1981 e sua última fase em 1985. Curiosamente, no inicio os terrenos próximos a Avenida Antônio Carlos Comitre eram menos valorizados se tornando depois o metro quadrado mais caro de Sorocaba.
Loteamento Parque Campolim. É possível ver na parte superior a direita o casarão da antiga chácara. Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
Loteamento Parque Campolim. Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
Loteamento Parque Campolim. Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
Loteamento Parque Campolim. Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
Loteamento Parque Campolim. Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
Área de construção do Shopping Esplanada. Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
Vista do bairro em 1986. Crédito da foto: Projeto Memória / Jornal Cruzeiro do Sul
Máquina trabalhando no bairro em 1986.
Crédito da foto: Projeto Memória / Jornal Cruzeiro do Sul
Avenida Mário Campolim em 1988 com vários animais.
Crédito da foto: Projeto Memória / Jornal Cruzeiro do Sul
A tranquilidade da avenida Antônio Carlos Comitre em 1988.
Crédito da foto: Projeto Memória / Jornal Cruzeiro do Sul
Ao fundo o futuro Parque Carlos Alberto de Souza - Campolim
Projeto do Shopping Esplanada. Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
Construção do Carrefour. Acervo: MHS
Construção do Carrefour. Acervo: MHS
Mas o fator que foi fundamental para o sucesso e valorização dos terrenos do novo bairro foi à chegada do Hipermercado Carrefour e do Shopping Esplanada Center na década de 90, onde o Campolim que naquela época eram áreas próximas, separadas pela Rodovia Raposo Tavares, mas que logo seriam ligadas por um viaduto.
A partir daí, a ocupação territorial do bairro só cresceu, com as construções de edifícios, mansões, lojas, escolas, diversas franquias conhecidas, restaurantes, barzinhos e baladas frequentadas pelas juventudes de diferentes épocas.
Por quase 40 anos, com todas as mudanças que o bairro passou uma parte da historia manteve-se viva, mas escondida numa das ruas que se ligam a Avenida Antônio Carlos Comitre. Uma rua chamada Leopoldina Moura Campolim, que sendo sem saída nos levava a uma grande surpresa: o casarão da antiga chácara que resistiu por todos esses anos, mas que foi demolido durante a pandemia, para ceder espaço a construções de novos prédios e assim acabando a última parte da antiga história do bairro.
Casarão da Chácara. Década de 80. Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
Casarão da Chácara. Década de 80. Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
Casarão da Chácara. Ano 2011. Fonte: Google Maps
Casarão já demolido. Ano: 2021. Fonte - Autor.
Casarão já demolido. Ano: 2021. Fonte - Autor.
Casarão já demolido. Ano: 2021. Fonte - Autor.
Fontes:
Jornal Cruzeiro do Sul: 15/01/1917; 20/01/1949; 22/07/1979; 02/09/1979; 29/04/1981; 01/05/1981; 15/08/1981; 04/09/1991; 27/09/1981; 31/12/1981; 14/09/1986; 09/05/2019;
Dissertação: O Olhar da Geografia Sobre a Verticalização do Parque Campolim,
Sorocaba de Ilson Juliano Barreto.
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