Hoje passaremos pela Praça Pedro de Toledo e entraremos no Cemitério da Saudade para contar um pouco de sua história…
A partir de 1835 e nos anos seguintes, o Campo da Forca, que segundo o historiador Aluísio de Almeida ficava onde está localizada atualmente a Praça Pedro de Toledo em frente ao cemitério, era utilizado para punir os escravos com a morte, sendo que em 1851, foram construídas forcas para três enforcamentos simultâneos. Segundo a tradição oral, essas forcas ficaram no local como exemplo até 1880.
Na esquina dessa praça com a Rua Comendador Oetterer existia um oratório para os condenados rezarem antes da execução.
Em 1847, a Câmara decidiu mudar o matadouro do Largo Santo Antônio para a Rua da Margem, mas houve reclamação por parte dos açougueiros que sugeriram como alternativa o Campo da Forca. A Câmara aceitou e começou a construir os muros de taipa, mas pouco depois descobriu-se que lá em cima faltava água e a construção foi interrompida.
Com a proibição dos enterros nas igrejas e arredores, foi autorizada a construção de um cemitério no Alto dos Piques. O primeiro administrador foi João Martins da Costa Passos. Ele, com o vereador Francisco Ferreira Leão, fez a divisão das sepulturas na planta dada do terreno.
Em 31 de março de 1863, o novo cemitério estava pronto, com regulamento aprovado e com o pedido da Câmara para o padre o benzer.
Entre os dias 18 a 31 de maio, foram enterradas as 9 primeiras pessoas no novo cemitério. Antônio Lacerda e Benedito Manuel Brisola foram os dois primeiros coveiros.
As sepulturas eram identificadas com tijolos numerados e nesse início havia 800 tijolos. Em junho, foram adquiridas as primeiras sepulturas perpétuas por Bento Mascarenhas Martins de Araújo.
Em 1865, o ferreiro Sewaybriker fez as grades para o muro da frente.
Nesse mesmo ano já estava sendo construída a capela do Cemitério com a planta de Olivério Pilar e a imagem de Nossa Senhora da Piedade encomendada por João de Oliveira Costa Neves a um santeiro do Porto, Portugal, chegando a Sorocaba em 22 de fevereiro de 1867.
Nessa época, o Padre Gonçalves Pacheco era o administrador e morava próximo ao campo santo, numa chácara que futuramente seria do Dr. Álvaro Soares e sua esposa Rita, responsáveis pela construção da capela de Santa Rita.
Durante a sessão da Câmara do dia 9 de julho de 1870, foi definido que o cemitério teria uma quadra destinada aos acatólicos e outra para os anjinhos (crianças). Somente em 1874, foi aberta a quadra para os acatólicos nos fundos do cemitério, onde existia um portão em frente à Rua São Vicente.
O Cemitério da sua inauguração ficou sob jurisdição da paróquia até 1889, depois passou a ser administrado pela Câmara.
Antigamente, no século XIX, existia uma taxa cobrada para ter a permissão para enterrar os falecidos no Cemitério Municipal chamado de “Sepulte-se!” ou “Enterre-se”, fato que gerou muita polêmica, a ponto de o presidente da província ter a necessidade de interferir, devido à alta taxa cobrada pelo pároco para essa “permissão”.
Durante a epidemia de Febre Amarela do final do século, devido à falta de mão de obra e cuidado de contágio, foi feita uma vala coletiva no fundo do cemitério, próximo ao portão da Rua Princesa Isabel, para os mortos serem enterrados.
Dr. Braguinha faleceu em 1911 e seu corpo foi levado de trem para o Cemitério da Consolação em São Paulo. Em 1913, Júlio Staracce, no Liceu das Artes de São Paulo, fez um busto em homenagem a ele, e esse busto ficou no Cemitério da Saudade até 8 de agosto de 1920, quando foi transferido para seu lugar atual, na Praça Cel. Fernando Prestes, por indicação do capitão Ricardo de Oliveira.
Em 1929, possivelmente pelas chuvas, um dos muros de taipa que ficava na Rua Hermelino Matarazzo desmoronou, o que possibilitou o furto de adornos e depredação de sepulturas.
Nesse ano surgiu um boato que uma alma penada cantava todas as noites a música “Ramona” que era uma canção muito conhecida na época no cemitério municipal. À medida que a notícia foi se espalhando, muito corajosos iam ao portão do cemitério para verificar se era mentira e voltavam assustados, confirmando a música cantada pelo fantasma.
No dia 3 de outubro de 1929, uma multidão de aproximadamente 2 mil pessoas, segundo o repórter do Jornal Cruzeiro do Sul, estava em frente e nas laterais do cemitério querendo comprovar se era verdadeiro esse boato.
Mais tarde, começou a ser ouvida a música de dentro do cemitério para pavor de uns que fugiram correndo, mas a maioria permaneceu ouvindo a “alma penada” cantando a canção.
Dentre a multidão se encontrava a polícia, que também soube do boato e resolveu investigar o caso. Felizmente, o “fantasma” foi identificado como o ex-laçador de cachorros, Oscar Silva, que entrava pelo muro caído do cemitério na Rua Ipanema e se escondia entre os túmulos para “pregar uma peça” nas pessoas que passavam perto da necrópole.
Em 1933, com a demolição dos muros do Jardim Público, o prefeito Ary Cruz mandou instalar as grades do jardim no cemitério, retirando os muros de taipas onde essa terra fosse utilizada para aterrar a rua Prudêncio de Moraes.
Em frente ao cemitério existia uma área chamada de Jardim do Cemitério ou Largo do Cemitério e com a ajuda do historiador Adolfo Frioli e de um mapa antigo conseguimos estimar que esse jardim começava na direção das ruas Major João Elias e Piratininga e prosseguia até a atual Praça Pedro de Toledo, internamente essa distância coincide com a quadra 1 e 2 e a partir desse ponto até a entrada do cemitério é utilizado letras para denominar as quadras.
Com a necessidade de mais espaço sem ter um grande gasto em 27 de outubro de 1940 às 9 horas, o prefeito Capitão Nascimento Filho, ampliou o cemitério municipal, utilizando o espaço do “Jardim do Cemitério” de onde apenas restou a Praça Pedro de Toledo e criando 1212 novas sepulturas, numa cerimônia com participação do Monsenhor Cangro que benzeu a área ampliada e a imagem do Cristo Ressuscitado colocado no novo portal.
Em agosto de 1942, no cemitério, ocorreu um evento marcante envolvendo José Faustino da Silva, o Zé Arrepiado de 21 anos, que até hoje é lembrado pelos mais velhos. Zé era um jovem que gostava de beber e era apaixonado por sua vizinha, Luiza de Barros de 19 anos. Após a morte de Luiza por tifo negro, seu caixão foi desenterrado, com a tampa queimada e seu corpo exposto ao lado do paletó de Zé Arrepiado. A suspeita de necrofilia recaiu sobre ele, que foi preso, mas solto em uma semana. Surgiram dúvidas se ele cometeu realmente o crime, pois poderia ter contraído a doença contagiosa da moça. Alguns acreditam que ele apenas dormiu bêbado no cemitério, fugindo ao perceber a confusão causada pelo verdadeiro autor do crime.
Fotos: Flavia Aguilera - 2014
O nome Cemitério da Saudade foi indicação do vereador Jurandir Badinni Rocha para o Cemitério Municipal e a nomeação foi realizada pela Câmara Municipal em 21 de junho de 1949.
Em março de 1960, o prefeito Artidoro Mascarenhas autorizou a demolição de grande parte do muro feito de taipa, para substituí-lo pelo muro de tijolos, com a inclusão de 300 gavetas funerárias neles, para venda ao público.
Em 1 de novembro de 1970, o Conselho Municipal do Turismo, entidade pública fundada pelo Prefeito Crespo Gonzales, homenageando os mortos da cidade de uma forma inédita, em parceria com o Aeroclube, fizeram uma chuva de pétalas de rosas nos cemitérios da Saudade, Consolação e PAX.
A atual capela do cemitério foi inaugurada em 15 de agosto de 1988, construída em substituição à anterior destruída com a queda de uma árvore durante um vendaval há aproximadamente 10 anos.
Grandes personalidades da história Sorocaba estão sepultadas nesse campo santo, como, por exemplo: o historiador Cônego Luiz Castanho de Almeida (Aluísio de Almeida), Prefeito José Crespo Gonzales, o historiador Antônio Francisco Gaspar, Francisco Scarpa, Julieta Chaves (Santinha de Sorocaba), Professor Toledo, o artista plástico Ettore Marangoni, João de Camargo, Monsenhor João Soares, entre muitos.
Atualmente, o Cemitério da Saudade se encontra em estado de abandono, com muitas sepulturas saqueadas, totalmente descaracterizadas, impossível de identificar os nomes dos falecidos nas lápides.
Fotos: Renata Rocha
Agradecimento especial ao amigo, o historiador Adolfo Frioli, pela ajuda com as informações sobre a história do cemitério.
Fontes:
— Jornal Cruzeiro do Sul:06/11/1955; 23/03/1960; 26/08/1962;06/11/1996; 21/06/1949;03/09/1988; 27/10/1993;13/02/1997;02/11/1990;
— Arquivos Rogich Vieira.
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