Hoje vamos falar sobre histórico Riacho do Supiriri, que se mantém discreto em grande parte do ano, mas quando chama atenção, sempre são pelos problemas causados durante as chuvas...
Segundo o historiador Aluísio de Almeida, o Supiriri quer dizer Rio dos Couros, pelo menos era assim que primeiros sorocabanos traduziram o nome, que vem nos documentos do impasse entre a Câmara e os monges beneditinos pelas terras herdadas de Baltazar Fernandes.
O nome se deve porque em suas margens matavam os bois e deixavam seus couros esticados nas árvores ribeirinhas para que secassem antes da utilização. O primeiro matadouro da cidade também utilizou desse riacho para esse fim.
Pelo contrário, o pesquisador Rogick Viera, diz que a palavra Supiriri, viria de um tupi aportuguesado originário da palavra “piririca”, que significa desnível. Nesse caso os índios utilizavam esse termo não para um lugar especifico e sim para lugares com as mesmas características geográficas.
Recibo de pagamento de um conserto de um açude no Supiriri, realizado em 20 de maio de 1835. Arquivo: Câmara Municipal de Sorocaba
O riacho do Supiriri que antigamente havia peixes começava na Vila Barão nas proximidades da Rua MMDC e descia até a Vila São João, depois seguia pela Avenida Afonso Vergueiro, cruzando as ruas dentro dos quarteirões a partir da Rua Arthur Gomes, passando pelo córrego que ainda é visível, chegando a Praça da Bandeira, entrando nas propriedades das fábricas N. S. da Ponte e Santo Antônio, prosseguindo pelo terreno da Estrada de Ferro Sorocabana e desaguando no Rio Sorocaba.
Vale do Supiriri. Catedral ao fundo e a fábrica Fonseca à esquerda. Foto de Júlio W. Durski, 1886. Acervo: Museu Histórico Sorocabano.
A primeira alteração do leito do riacho aconteceu em 1872,quando Maylasky com os planos de construir a estação ferroviária onde futuramente seria a Fábrica Nossa Senhora da Ponte, rebaixou o leito do Supiriri, desde parte da Rua Comendador Hermelino Matarazzo e o desviou atrás das oficinas de carros e vagões até seu encontro com o Rio Sorocaba.
Tinha um afluente chamado Rio das Pedras na Rua 7 de setembro perto do terreno que seria o Ipanema Clube e que descia e se unindo ao riacho Supiriri quando cruzava a Rua Professor Toledo.
Em 1886, Francisco Speers e George Oeterer desempenhando a função de técnicos, dirigem a construção de uma represa (ou caixa d’ água) de um afluente do Supiriri (que pode ser o Rio das Pedras) e o encanamento de tubos de ferro para abastecer a caixa d’agua que ficava na Rua Carlos Gomes, esquina com a Rua Padre Luís que e distribuía água para os chafarizes do centro da cidade.
Já em 23 de Março de 1901, o presidente da Câmara Dr. Luiz Nogueira Martins, apresentou o primeiro projeto de lei, para a canalização do Córrego do Supiriri, sancionada pelo intendente municipal, Francisco Loureiro que no inicio de 1902, deixaria o cargo, sendo substituído pelo próprio Dr. Nogueira Martins. Infelizmente o projeto não passou da fase de estudos pelo seu custo.
Em 1903, com as intensas chuvas no inicio do ano, o açude que ficava nos fundos da Chácara Vilela na Vila São João rompeu engrossando as águas do Supiriri demolindo as pontes das ruas Padre Luís e Comendador Oeterer e gerando um grande prejuízo para a Camara Municipal.
Vários intendentes e depois prefeitos, fizeram promessas e projetos viáveis e inviáveis para acabar com as enchentes, descaracterizando totalmente seu leito, na tentativa de resolver esse problema, mas ano após ano, o Supiriri mostrava ser um adversário a altura, requerendo seu espaço de antigamente.
Por essas situações o riacho começou a ser chamado pelos jornais de “moleque travesso”, pois em períodos chuvosos, suas enchentes sempre traziam problemas para os que residiam nas proximidades.
Com o crescimento da população e com os loteamento dos bairros próximos, só agravaram a situação com enxurradas vindo da Praça 9 de Julho, Vila Barão, Trujillo e do córrego da Vila Carvalho, aumentaram substancialmente o volume do Supiriri.
Córrego Supiriri passando na Fábrica Santo Antônio. Acervo: Museu Histórico Sorocabano.
Nessa foto podemos ver o córrego vindo pararelo a avenida Afonso Vergueiro.
Acervo: Douglas Gomes. Década de 70.
Mais um trecho do Supiriri, próximo ao Clube Scarpa. Foto: Cruzeiro do Sul - 1974
O projeto que mais chegou próximo da solução consistia na canalização do córrego e a pavimentação da avenida perimetral, que se chamaria Afonso Vergueiro. Passou por três administrações, iniciado com o prefeito Crespo Gonzales em 1971, seguindo de Armando Pannunzio, sendo finalmente terminado na gestão Theodoro Mendes.
Trecho da Vila São João
Com muitos percalços e atrasos por diferentes razões o projeto foi concluído e o trecho da Avenida Afonso Vergueiro, entre a Avenida Eugênio Salerno até a Praça da Bandeira foi inaugurada em 30 de julho de 1978 e os problemas das enchentes possivelmente resolvidas.
Infelizmente em outubro do mesmo ano, depois de uma chuva forte de meia hora, o moleque travesso, voltou a aprontar das suas, inundando o córrego na Rua Padre Luís, a Praça da Bandeira e parte da Rua Miranda de Azevedo.
Houve mais manutenções e alterações no córrego e nas redes de água e esgoto, durante as administrações seguintes, mas os moradores das proximidades da Praça da Bandeira convivem até os dias atuais com esse problema, sem ter esperança de uma solução real para as enchentes.
Além de problemas e preocupações, o córrego também foi inspiração, como nome de imobiliária (Predial Supiriri), de time de futebol (Canto do Rio do Supiriri) e de um brinquedo no Zoológico Municipal.
Reaproveitando uma escada caracol retirada da Capela da Santa Terezinha, o prefeito da época, Crespo Gonzales em 1970, idealizou um brinquedo colocando sobre ela uma armação de ferro com o formato de um foguete e o nomeando Supiriri, fazendo sucesso na FAPIS para divertimento das crianças. Passado a feira foi levado para o Zoológico Municipal Quinzinho de Barros e instalado onde seria futuramente seria a área dos elefantes.
Fez história, como em 4 de janeiro de 1931, quando o Britânia inaugura seu campo , num aterro do Supiriri. Nesta ocasião, além de partidas de futebol, aconteceu um jogo de basquete entre a equipe da casa contra o Palestra Itália, com vitória de 17 a 5 para o time paulistano. Essa quadra teria sido construída no fundo da Fábrica Nossa Senhora da Ponte e demolida posteriormente.
Possivelmente na foto no fundo da Fábrica Nossa Senhora da Ponte, podemos ver uma contrução que poderia ser a quadra referida acima.
Supiriri também teve suas lendas, como relatava Antônio Francisco Gaspar em seu livro sobre uma misteriosa mulher que aparecia de em vez de quando, a meia-noite no riacho para lavar roupa, ficando a dúvida se seria apenas uma lavadeira ou algo sobrenatural.
Claro que como se dizia antigamente "Quem bebe a água do Supiriri nunca mais sai daqui", o córrego foi inspiração, fez parte da história e teve suas lendas, influenciando as próximas gerações de sorocabanos.
*Agradecimentos especiais para Adolfo Frioli, Antônio Carlos Sartorelli e José Rubens Incao pela ajuda nessa pesquisa.
Fontes:
- Livro: A Revolução Liberal de 1842 de Aluísio de Almeida;
- Mapa de Sorocaba de 1940;
- Mapa de Sorocaba de 1950;
- Livro: Minhas Memórias de Antônio Francisco Gaspar;
- Livro Memórias do Esporte Sorocabano de Otto Wey Netto;
- Jornal Cruzeiro do Sul: 14/01/1949; 12/11/1949; 26/02/1950; 21/03/1965; 18/07/1970; 07/05/1972; 30/12/1973; 12/01/1974; 17/03/1976; 15/01/1977; 27/01/1977; 29/03/1977; 10/11/1977; 14/11/1977; 15/07/1978; 03/08/1978; 18/11/1978; 28/01/1979; 03/04/1979; 15/08/1979; 15/11/1979; 14/01/1989; 16/03/2000; 01/04/2007;
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