Hoje é dia de ir à esquina da Rua Cel. Bendito Pires com a Rua Sete de Setembro e falar um pouco sobre a saudosa Casa Saturno.
Curiosamente onde atualmente se encontra a loja Dimanos, desde o começo do século XX, na maioria das vezes foi casa de ferragens por onde passou diversos donos, assim vamos voltar ao começo do século e conhecer um pouco sobre essa história.
No início de 1900, quando a Rua Cel. Benedito Pires se chamava Rua da Matriz, no número 27, existia a casa de ferragens e de secos e molhados chamado “Grande Bazar”, dos sócios Sampaio & Silva e que pouco tempo depois passou a se chamar “Casa do Bugre” mantendo a mesma sociedade.
Em 1907, o dono já seria Antônio Guilherme Silva (que possivelmente pode ser um dos donos anteriores), com propriamente uma casa de ferragens, vendendo tinta, maquinas de costuras e artigos para escritório, além de armas de fogo que já era vendido anteriormente. Foi ele que doou o terreno ao lado da Capela de Santa Cruz, na rua de mesmo nome para a construção do Asilo de São Vicente de Paulo.
Em 1911, o capitão Crispiniano da Fontoura Costa, na qual tinha um escritório de advocacia ao lado da casa de ferragens, mas no mesmo endereço.
Como o negócio não estava indo bem, o Antônio se mudou para Rua da Penha deixando o local que em seguida foi ocupado pela família Scarpa, que já tendo um negócio no sobrado na Rua Padre Luiz, aonde hoje se encontra a Loja Cem, decidiram criar uma filial chamada “Casa Scarpa”, já com foco de utensílios domésticos como louças e talheres.
Sobre o cuidado de Francisco Scarpa e seu filho, o comércio manteve-se em pleno funcionamento até 1918, quando possivelmente por motivo da morte de Francisco, coube ao seu filho Nicolau e a mulher dele, Joaquina, cuidarem dos negócios deixando de administrar a Casa Scarpa.
Pelos anúncios nos jornais da época, Ricardo Oliveira que foi contador de Francisco Scarpa e Filho e que era casado com Isabel Scarpa, se tornou o novo dono da antiga Casa Scarpa.
Em meados de 1925, a loja passou para sobre responsabilidade de Francisco Scarpa Junior e o local passou a se chamar “Casa Chiquinho”.
Finalmente chegamos em1932, chegamos ao nome do comércio que mais tempo ficou nesse endereço e se tornou inesquecível através de fotos e belas lembranças: a Casa Saturno.
Através de nossa pesquisa descobrimos diversos comércios e donos pelo Brasil que utilizaram o nome “Casa Saturno” pelo Brasil. Em São Paulo (1913), Rio de Janeiro (1920), Florianópolis (1923), São Roque (1931), Curitiba (1933), Maceió (1938) e Capão Bonito (1947), sendo nesse último o nome do dono Saturnino Desiderio Mendes.
Quem nos ajudou a descobrir um pouco da história da Casa Saturno sorocabana, foi Marcos Pires de Almeida, que além de ser último dono, também sempre participou da loja quando seu pai e outros parentes foram donos.
Pelo que concluímos o primeiro dono e talvez quem escolheu o nome da Casa Saturno foi Domingos Balsamo que adquiriu o ponto da família Scarpa no inicio dos anos 30, tendo o primeiro anuncio encontrado em jornal de dezembro de 1932.
Como os comércios anteriores nessa época, ela também era uma casa de ferragens, materiais de construção, louças e presentes num área anexa ao prédio. Vendiam armas e munições, com direito a disparos de armas dentro da loja para testes durante a Revolução de 1932.
Aproximadamente dois anos depois Domingos vendeu seu comércio para Amantino de Sanctis e Martinho Rodrigues, genro de Amantino.
Os sócios decidiram manter o nome da loja e seu público alvo, sem imaginar que todas as decisões que estavam tomando contribuiriam para que a Casa Saturno se tornasse um negócio bem sucedido por 50 anos.
Em 1940, a sociedade Sanctis & Rodrigues chega ao fim, mas com a saída de Martinho entra Luiz filho de Amantino, em seu lugar criando a Sanctis & Cia.
O prédio era propriedade de Alcides Soares, e como ele não tinha interesse de vender para a família Sanctis, foi decidido comprar o imóvel do lado, na Rua Sete de Setembro nº 50, para caso o prédio for pedido pelo proprietário, a Casa Saturno simplesmente se mudaria para o lado.
Uma grande oportunidade observada pelos donos foi que por mais que Sorocaba tivesse várias lojas do mesmo ramo, e que houvesse demanda para todas, as regiões ao redor de Sorocaba não estavam sendo atendidas com eficiência, assim a Casa Saturno iniciou a venda por atacado para atender as cidades próximas.
Com vendedor chamado Brunetti fazendo o pedido fisicamente na região e com o atendimento por telefone, os pedidos eram separados no imóvel ao lado e enviados através da ferrovia ou pelas jardineiras para os clientes a distância.
Nesse caminho o nome da loja se tornou referência de atendimento e produtos na região de Sorocaba.
Em contra partida o patriarca da família Sanctis, Amantino, se afasta do negócio por motivos de saúde, abrindo a oportunidade da entrada dos filhos Amantino Filho e José e do genro Mario (pai de Marcos).
Em meados de 1952, José sai da sociedade para montar sua loja.
Infelizmente com a chegada da década de 60, a Casa Saturno, veria o surgimento de vários concorrentes como a família Moreno, que prestavam os mesmos serviços e se destacando com preços mais atrativos.
Por fim, Luiz deixa a sociedade, ficando agora como donos da loja: Mario (pai), Mario (filho), Marcos e Amantino Filho.
A década de 80 não começa fácil para o comercio sorocabano, com a queda de vendas, assim Amantino Filho com a ideia de investir em outro negócio decide vender a sua parte para Marcos.
Em 1983, Marcos compra a parte de seu pai e do seu irmão Mario (filho), que retorna para o ramo de Buffet, se tornando o único dono da Casa Saturno.
Em 1984, o país continua numa situação complicada, passando pela recessão e com isso todos os comerciantes sentiram o impacto nas vendas, dentre eles Marcos que se viu as dividas acumularem, mas com calma, negociando com os credores e fazendo empréstimos nos bancos, conseguiu fechar o ano quitando todas as contas.
Quando pensava em começar o ano de 1985 com o pé direito, recebeu a noticia que o dono do prédio, queria o imóvel de volta, e sem mais o terreno do lado da loja que foi vendida com a saída dos sócios e sem a possibilidade de comprar o prédio, Marcos infelizmente fecha as portas da Casa Saturno, que por mais tenha se encerrado o ciclo sempre será lembrada por antigos clientes e por fotos da esquina da Rua Cel. Benedito Pires com a Rua Sete de Setembro.
Nesse mesmo ano a loja Sabina Modas, compra o ponto de Marcos e faz o contrato do imóvel e o destrói para a construção de sua loja.
Com as pesquisas mais escassas, descobrimos que no inicio dos anos 90, a loja Sabina Modas, deixa o ponto, e nele é construída a loja de roupas Dimanos que além de se manter em funcionamento já teve várias ampliações tendo acesso agora através da Rua Padre Luiz.
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* Agradecimentos especiais para Marcos Pires de Almeida pela entrevista e José Rubens Incao por disponibilizar o local.
Fontes:
Jornal Cruzeiro do Sul: 25/06/1907; 24/11/1909; 30/04/1910; 10/08/1910; 06/01/1911; 04/06/1911; 27/08/1911; 30/09/1913; 21/08/1915; 20/04/1918; 03/05/1919; 13/04/1920; 17/10/1920; 19/10/1920; 13/10/1925; 30/09/1930; 10/06/1930; 13/09/1930; 21/11/1930; 05/03/1938; 12/10/1938; 05/04/1940; 04/02/1945; 06/12/1932; 05/09/1967; 25/10/1969; 30/12/1972; 23/08/1978; 18/08/1985; 26/10/1986; 01/04/1993;
Jornal Correio Paulistano: 1923; 1936; 1947;
Almanak Laemmert: 1916; 1917; 1931; 1937;
Almanaque de Sorocaba de 1903;
Almanaque de Sorocaba de 1914;
Revista Sino Azul nº 1 – 1959;